Setembro Amarelo: o que é e uma visão marxista sobre o suicídio

Setembro amarelo: uma visão marxista

O Setembro Amarelo é uma campanha fundamental para promover a conscientização sobre a prevenção do suicídio, quebrar tabus e estigmas relacionados à saúde mental e fornecer apoio às pessoas que estão passando por momentos difíceis.

Entre os anos de 2011 e 2015, o Brasil lamentou a perda de 55.649 vidas devido ao suicídio. A taxa média de suicídios nesse período foi de 5,5 por 100 mil habitantes, oscilando entre 5,3 em 2011 e 5,7 em 2015.

Em 2022, o Brasil testemunhou um aumento de 11,8% no número de suicídios em comparação com o ano anterior, de acordo com os dados apresentados no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

No ano de 2022 foram registrados 16.262 casos de suicídio, o que equivale a uma média de 44 casos por dia. Em contrapartida, em 2021, o país contabilizou 14.475 casos. Esses números representam uma taxa de 8 suicídios por 100 mil habitantes em 2022, em comparação com 7,2 em 2021.

Esses números, ainda que possam ter algumas subnotificações, destacam a dimensão do desafio – que tem crescido e precisa ser abordado com seriedade.

Por isso, de acordo com a Psicologia Histórico-Cultural, é importante sempre manter um pensamento crítico até mesmo quanto ao que é divulgado durante o Setembro Amarelo.

Afinal de contas, frases motivacionais de Setembro Amarelo não são o suficiente para ajudar no combate a esse fenômeno sócio-político. É necessário que aproveitemos esse momento para desmascarar mitos em relação ao suicídio e evitar soluções fáceis que apenas escondem as causas desse problema.

Antes de chegar a esse ponto, vamos entender melhor o que é o Setembro Amarelo, como essa data surgiu e a sua importância para o Brasil.

O que é o Setembro Amarelo

O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização que tem como objetivo principal a prevenção do suicídio. Durante todo o mês de setembro, uma série de ações são realizadas para promover o diálogo sobre saúde mental, desmistificar o tema do suicídio e oferecer suporte às pessoas que estão enfrentando problemas emocionais e psicológicos.

A escolha da cor amarela como símbolo do movimento tem um significado importante. O amarelo simboliza a luz, a esperança e a atenção necessária para combater o suicídio. É uma forma de chamar a atenção da sociedade para um problema que muitas vezes é ignorado ou estigmatizado.

Como surgiu o Setembro Amarelo

A origem da campanha Setembro Amarelo remonta à história de Mike Emme, que, em setembro de 1994, aos 17 anos, se suicidou nos Estados Unidos. Mike era proprietário de um carro amarelo e, no dia de seu velório, seus pais e amigos distribuíram cartões com fitas amarelas e mensagens motivacionais, destinados a pessoas que pudessem estar enfrentando desafios emocionais e de saúde mental. Essas fitas amarelas se transformaram no símbolo da campanha.

No Brasil, o Setembro Amarelo teve início em 2015, por meio de uma parceria entre o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). A ideia era inspirar ações semelhantes às do Outubro Rosa e Novembro Azul, que tratam, respectivamente, do câncer de mama e da saúde masculina.

Desde então, a campanha cresceu e ganhou alcance internacional, promovendo a conscientização em diversos países ao redor do mundo.

Por que Setembro Amarelo?

Além de remeter ao caso de Mike Emme, a escolha da cor amarela como símbolo do movimento tem um significado importante. O amarelo simboliza a luz, a esperança e a atenção necessária para combater o suicídio.

Além disso, trata-se de uma cor forte, capaz de chamar a atenção da sociedade para um problema que muitas vezes é ignorado ou estigmatizado.

O que fazer no Setembro Amarelo

Qual a importância do Setembro Amarelo

O Setembro Amarelo desempenha um papel crucial na quebra do estigma em torno das doenças mentais e do suicídio. Ele destaca a importância de falar abertamente sobre os sentimentos, emoções e pensamentos suicidas, de forma a encorajar as pessoas a buscar ajuda quando necessário.

Além disso, a campanha também auxilia na disseminação de informações sobre recursos de apoio disponíveis, como linhas de prevenção ao suicídio, serviços de saúde mental e terapia, bem como na conscientização sobre como amigos, familiares e colegas de trabalho podem ser aliados na prevenção do suicídio.

Setembro Amarelo: uma visão marxista sobre o suicídio

Dentro da Psicologia Marxista, assim como em outras teorias inspiradas pelo trabalho do filósofo Karl Marx, o suicídio pode ser analisado de maneira contextualizada, considerando os fatores socioeconômicos e políticos que afetam a vida das pessoas.

Por isso, no momento de pensar em ações sobre o Setembro Amarelo, é importante levar em consideração pensamentos mais críticos e aprofundados sobre o fenômeno, partindo de uma ideia político-social.

A Psicologia Histórico-Cultural, por exemplo, enfatiza a influência das condições sociais e econômicas na saúde mental e no comportamento humano. Confira abaixo algumas das influências do pensamento marxista para compreender o fenômeno do suicídio.

Alienação e exploração: A teoria marxista destaca a alienação e a exploração como características fundamentais do sistema capitalista. Pode-se argumentar que a alienação resultante da exploração econômica e da falta de controle sobre o próprio trabalho pode levar a sentimentos de desespero e desesperança, fatores que estão ligados ao suicídio.

Desigualdade social: A desigualdade econômica e social é um tema central no marxismo. A psicologia marxista pode examinar como a desigualdade de acesso a recursos, oportunidades e serviços afeta a saúde mental das pessoas. A falta de acesso a cuidados de saúde mental adequados pode aumentar o risco de suicídio.

Isolamento social: O capitalismo pode promover o individualismo e o isolamento social, o que pode levar à solidão e ao desamparo. Esses sentimentos podem contribuir para a ideação suicida.

Condições de trabalho: Uma análise marxista do suicídio pode considerar como as condições de trabalho precárias, a pressão por produtividade e a insegurança no emprego afetam a saúde mental dos trabalhadores.

Efeitos da crise econômica: Durante períodos de crise econômica, como recessões, a psicologia marxista pode examinar como o aumento do desemprego e a instabilidade financeira podem contribuir para taxas mais elevadas de suicídio.

“Nessa sociedade de luta e competição impiedosas, de guerra de todos contra todos, somente resta ao indivíduo ser vítima ou carrasco. Eis, portanto, o contexto social que explica o desespero e o suicídio.”

Karl Marx

Além desses pontos, pensar a decolonialidade é um aspecto importante para compreendermos os números do suicídio e evitarmos o pensamento suicida entre as pessoas. Por isso, também é necessário pensar a partir de uma psicologia decolonial.

A taxa de mortalidade por suicídio é significativamente mais elevada entre os homens indígenas, com uma taxa de 23,1 mortes por 100 mil habitantes, em comparação com os homens brancos, que apresentam uma taxa de 9,5, e os homens negros, com uma taxa de 7,6.

No caso das mulheres indígenas, também observa-se uma taxa mais elevada, atingindo 7,7, enquanto as mulheres brancas registram uma taxa de 2,7 e as mulheres negras apresentam uma taxa de 1,9.

Como trabalhar o Setembro Amarelo na escola e no trabalho

É possível pensar em várias atividades do Setembro Amarelo. No entanto, é essencial que elas estejam alinhadas com um pensamento crítico e que ajudem as pessoas a desmistificar ideias errôneas ou incompletas sobre esse fenômeno.

Setembro Amarelo na escola:

  • Promover palestras e workshops sobre saúde mental e prevenção do suicídio para alunos, professores e funcionários.
  • Incluir temas relacionados à saúde mental no currículo escolar, de forma a educar os alunos desde cedo sobre a importância do autocuidado emocional.
  • Estimular atividades artísticas e expressivas, como a escrita, a música e a arte, como meios de expressar emoções e sentimentos.
  • Prevenir o bullying e reconhecer a violência entre pares, entre professores e alunos ou até mesmo entre os alunos e suas famílias.
  • Oferecer um ambiente seguro, onde os alunos possam tanto se abrir quanto aos seus pensamentos e emoções, quanto encontrem apoio econômico e social.
  • Fomentar a criação de grupos de apoio e discussão entre os alunos, proporcionando um espaço seguro para compartilhar experiências e preocupações.

Setembro Amarelo no trabalho:

  • Realizar palestras e workshops sobre saúde mental no ambiente de trabalho, abordando temas como estresse, ansiedade e prevenção do suicídio.
  • Implementar programas de apoio emocional, como sessões de aconselhamento, psicoterapia para funcionários e um plano de saúde com acesso a profissionais de diversas especialidades.
  • Promover a comunicação aberta e a empatia entre os colegas de trabalho, criando um ambiente onde as pessoas se sintam à vontade para compartilhar seus sentimentos e preocupações.
  • Disponibilizar informações sobre linhas de prevenção ao suicídio e recursos de apoio dentro da empresa.
  • Oferecer segurança e estabilidade econômica, seja com salários mais dignos, benefícios adequados e cargas horárias adequadas.
  • Evitar um ambiente ou clima estressante e de competição entre os funcionários.

Setembro Amarelo e a comunidade LGBTQIAPN+

A comunidade LGBTQIAPN+ enfrenta desafios sociais, emocionais e psicológicos que podem aumentar o risco de problemas de saúde mental, incluindo o suicídio. As taxas de suicídio entre pessoas LGBTQIAPN+ são mais elevadas do que entre pessoas heterossexuais.

Alguns dos fatores que levam a esse aumento nos suicídios entre pessoas LGBT estão:

Estigma e discriminação: A discriminação e o preconceito contra pessoas LGBTQIAPN+ ainda são realidade em muitos lugares do mundo. O estigma social pode levar a sentimentos de isolamento e rejeição, contribuindo para a angústia emocional.

Bullying e violência: Muitos indivíduos LGBTQIAPN+ são vítimas de bullying e violência devido à sua orientação sexual ou identidade de gênero. Isso pode causar traumas psicológicos profundos e levar a problemas de saúde mental.

Rejeição familiar: Infelizmente, muitos jovens LGBTQIAPN+ enfrentam a rejeição por parte de suas famílias ao se assumirem. Isso pode resultar em instabilidade emocional e até mesmo em situações de desamparo.

Acesso a serviços de saúde: Nem sempre é fácil para pessoas LGBTQIAPN+ acessar serviços de saúde, incluindo de saúde mental, que sejam culturalmente sensíveis e sem preconceitos. A falta de apoio adequado pode tornar o processo de busca de ajuda mais difícil.

Como prevenir o suicídio entre pessoas LGBTQIAPN+

É necessário garantir um mundo mais seguro e acolhedor a todas as pessoas, especialmente a quem já sofre com mais exclusão e violência – seja violência simbólica, estrutural, social, econômica ou física.

Entre as ações que ajudariam a prevenir o suicídio entre pessoas dissidentes de gênero e sexualidade estão:

Educação e Sensibilização: Promover a educação e a conscientização sobre saúde mental na comunidade LGBTQIAPN+, destacando a importância do apoio emocional e do acesso a serviços de saúde mental.

Criar espaços seguros: Estabelecer espaços seguros e inclusivos onde pessoas LGBTQIAPN+ possam compartilhar suas experiências, preocupações e obter apoio mútuo.

Recursos de apoio: Disponibilizar informações sobre linhas de prevenção ao suicídio, grupos de apoio LGBTQIAPN+ e profissionais de saúde mental que sejam sensíveis às questões da comunidade.

Liderança e representação: Incentivar lideranças LGBTQIAPN+ a se envolverem ativamente na promoção da saúde mental e na luta contra o suicídio, usando suas vozes para criar mudanças positivas.

Combate ao estigma: Trabalhar para eliminar o estigma em relação à saúde mental dentro da comunidade LGBTQIAPN+ e incentivar a busca por ajuda quando necessário.

Conheça meu trabalho como psicólogo marxista
Raphael Granucci Pequeno
Raphael Granucci Pequeno

Psicólogo clínico, escritor e pesquisador

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