Constelação Familiar: 10 motivos para NÃO fazer

Constelação Familiar: vale a pena?

A Constelação Familiar, uma abordagem terapêutica que ganhou popularidade nas últimas décadas, não é isenta de críticas e controvérsias. Entre os principais problemas da Constelação Familiar, pode-se destacar seus fundamentos, que justificam o uso da violência para restaurar hierarquias, inclusive responsabilizando meninas e mulheres pelos abusos sofridos.

Além disso, suas bases teóricas perpetuam uma visão que desconsidera os direitos das crianças e jovens e os submete aos genitores, o que contraria normativas dos Conselhos de Psicologia e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Também entra em conflito com as diretrizes sobre gênero e sexualidade do Conselho Federal de Psicologia, ao patologizar identidades de gênero, orientações sexuais, masculinidades e feminilidades que não seguem o padrão socialmente imposto nas relações familiares e sociais.

O que é e como funciona a constelação familiar

A constelação familiar, popularizada por Bert Hellinger, é uma “abordagem terapêutica” que visa identificar e resolver conflitos familiares e padrões comportamentais por meio da representação de membros da família em uma espécie de “constelação”.

Embora algumas pessoas relatam ter se beneficiado desse método, existem também motivos para não fazer constelação familiar. É importante considerar essas razões antes de decidir se é a abordagem certa para você ou sua família.

Conselho Federal de Psicologia e a constelação familiar

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) emitiu um comunicado em resposta a preocupações sobre a Constelação Familiar e sua compatibilidade com a ética profissional dos psicólogos.

O documento, desenvolvido em conjunto com representantes dos Conselhos Regionais de Psicologia de todo o país, ressalta que vários princípios teóricos da Constelação Familiar entram em conflito com regulamentos, resoluções e leis que regem o exercício da psicologia no Brasil.

Nota Técnica CFP nº 1/2023

A Nota Técnica CFP nº 1/2023 foi produzida após uma revisão da literatura e entrevistas com associações e profissionais das áreas que empregam a técnica da Constelação Familiar Sistêmica. Após analisar os princípios teóricos subjacentes a essa prática, o CFP identificou inconsistências éticas e de conduta profissional relacionadas ao seu uso no contexto da Psicologia.

Um dos principais pontos de incompatibilidade é o reconhecimento, nos fundamentos teóricos da Constelação Familiar, do uso da violência como um meio de restaurar hierarquias violadas, inclusive atribuindo a meninas e mulheres a responsabilidade pela violência que sofrem.

A nota técnica também destaca que as sessões de Constelação Familiar podem levar à súbita emergência de estados de sofrimento ou desorganização psíquica, e a técnica não fornece o conhecimento técnico adequado para lidar com essas situações, o que entra em conflito com o Código de Ética Profissional dos Psicólogos.

Além disso, a prática da Constelação Familiar muitas vezes envolve a transmissão aberta de sessões em grupos e individualmente, inclusive online, o que é contraproducente para o princípio de sigilo profissional conforme estipulado no Código de Ética da Psicologia.

Os fundamentos teóricos da Constelação Familiar também perpetuam uma visão da infância e juventude que desconsidera direitos e submissão aos genitores, indo contra as normativas dos Conselhos de Psicologia e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Além disso, a prática da Constelação Familiar entra em conflito com as diretrizes normativas sobre gênero e sexualidade estabelecidas pelo Conselho Federal de Psicologia, uma vez que pode patologizar identidades de gênero, orientações sexuais, masculinidades e feminilidades que não se encaixam no padrão hegemônico imposto nas relações familiares e sociais, entre outras graves violações.

Motivos para não fazer a constelação familiar

Motivos para desconfiar da constelação familiar

  1. Falta de evidências científicas sólidas: A constelação familiar é frequentemente considerada uma abordagem pseudocientífica, uma vez que não possui uma base empírica sólida para sustentar suas alegações. A eficácia da constelação não foi comprovada de maneira convincente por pesquisas científicas e não segue os padrões de validação e revisão por pares comuns em psicologia e terapias baseadas em evidências.
  2. Riscos de falsas memórias: Durante as sessões de constelação familiar, é possível que os participantes desenvolvam falsas memórias ou interpretem erroneamente as dinâmicas familiares. Isso pode levar a conclusões equivocadas e, em alguns casos, pode até causar mais conflitos e confusão.
  3. Não substitui a terapia convencional: A constelação familiar não deve ser usada como substituta de terapias convencionais, especialmente em casos de transtornos mais severos ou em situações mais delicadas. É importante procurar profissionais de saúde mental qualificados para tratar questões sérias, como psicólogos ou psiquiatras.
  4. Custos e tempo: Participar de sessões de constelação familiar pode ser caro, ao mesmo tempo que pode trazer um retrocesso ou agravamento da situação. Além disso, a abordagem geralmente requer várias sessões, o que pode consumir bastante tempo. Por isso, prefira terapias que levam em consideração princípios éticos e transparentes.
  5. Potencial para explorar emoções profundas: A constelação familiar pode trazer à tona emoções profundas e intensas, o que pode ser angustiante para algumas pessoas. Isso pode ficar ainda mais grave pois o facilitador nem sempre é uma pessoa capacitada para lidar com essas emoções e ajudar as pessoas a se recomporem após uma sessão. Após as sessões de constelação familiar, muitas pessoas experimentam um aumento nos níveis de ansiedade patológica e ideação suicida.
  6. Ausência de regulamentação: A constelação familiar não é regulamentada em muitas jurisdições, o que significa que qualquer pessoa pode se autodenominar facilitador de constelação familiar, independentemente de sua formação ou qualificações. Isso pode expor os participantes a riscos desnecessários.
  7. Confusão de papéis: Participar de constelações familiares pode fazer com que as pessoas confundam os papéis entre terapeuta, facilitador e cliente, o que pode prejudicar o processo terapêutico.
  8. Resultados inconsistentes: Os resultados da constelação familiar variam de pessoa para pessoa, e nem todos experimentam benefícios significativos. Algumas pessoas podem se sentir decepcionadas com a experiência.
  9. Alternativas com base em evidências: Existem muitas abordagens terapêuticas com base em evidências que têm demonstrado eficácia no tratamento de problemas familiares e emocionais. É importante considerar essas alternativas antes de optar pela constelação familiar.
  10. Não é contextualizada: Apesar de investigar questões pessoais e históricas de cada pessoa, os resultados são baseados em preconceitos e ideias fixas. Ou seja, não levam em consideração verdadeiramente os fatores culturais e as diferentes maneiras como cada pessoa pode internalizar cada situação.

Psicologia Histórico-Cultural e a Constelação Familiar: ideias contrárias

A constelação familiar trabalha com muitas ideias que descartam todos os avanços que tivemos nos últimos anos. Alguns dos conceitos desse tipo de terapia são baseados em preconceitos e apenas reafirmam estereótipos que causam sofrimentos.

Logo, ao invés de trabalhar de maneira a emancipar os indivíduos e gerar autonomia e um desenvolvimento saudável, como a Psicologia Histórico-Cultural propõe, essas ideias podem aprisionar ainda as pessoas em conceitos enviesados e descontextualizados de suas realidades.

Em resumo, a constelação familiar é uma abordagem controversa que não é amplamente aceita pela comunidade científica. Antes de decidir se envolver nesse tipo de terapia, é aconselhável pesquisar alternativas baseadas em evidências e, se necessário, consultar um profissional de saúde mental qualificado para obter orientação sobre a melhor abordagem para suas necessidades individuais.

Conheça meu trabalho como psicólogo histórico-cultural
Raphael Granucci Pequeno
Raphael Granucci Pequeno

Psicólogo clínico da abordagem histórico-cultural, escritor e pesquisador

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