Você já ouviu falar no conceito de “Zona de Desenvolvimento Proximal”? Também conhecido por outros nomes, como zona proximal de desenvolvimento ou zona de desenvolvimento potencial, esse é um conceito muito importante para entendermos a aprendizagem e até mesmo a produção da personalidade em cada ser humano.
A abordagem psicológica histórico-cultural desenvolvida por Vygotsky desempenhou um papel crucial no aprofundamento do conhecimento sobre as interações sociais e culturais na sociedade, bem como na compreensão dos processos de ensino e aprendizagem individuais.
Em particular, o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) revolucionou nossa compreensão da maneira como as pessoas aprendem e se desenvolvem socialmente, estabelecendo novos parâmetros nesse campo.
O que é zona de desenvolvimento proximal?
Segundo Vygotsky, a zona de desenvolvimento proximal é considerada um ponto muito importante em toda a PHC, pois é a base da aprendizagem.
A Zona de Desenvolvimento Proximal representa a esfera interpsicológica na qual significados são coletivamente construídos e individualmente assimilados. Essa zona se configura dentro das interações sociais em que os indivíduos se envolvem, enfrentando desafios ou situações que envolvem debates, trocas de ideias e a partilha e confronto de pontos de vista diversos.
Conforme Vygotsky, “o estado do desenvolvimento mental da criança só pode ser determinado referindo-se pelo menos a dois níveis: o nível de desenvolvimento efetivo e a área de desenvolvimento potencial”.
Em termos simples, o desenvolvimento efetivo, também chamado de desenvolvimento real, diz respeito às habilidades já plenamente amadurecidas na criança, aquilo que ela pode resolver de forma independente, representando o produto final do desenvolvimento. Por outro lado, a área de desenvolvimento potencial (ou Zona de Desenvolvimento Proximal – ZDP) engloba as habilidades que ainda estão em processo de maturação e que demandam assistência de adultos para serem efetivamente desenvolvidas.
Vygotsky supostamente identificou três zonas de desenvolvimento:
- zona real, que se refere ao que uma pessoa consegue realizar de forma autônoma;
- zona potencial, que abrange o que pode ser alcançado com a ajuda de indivíduos mais experientes;
- zona proximal, que engloba as habilidades em processo de amadurecimento.
O autor elaborou a teoria da Zona de Desenvolvimento Proximal ao examinar interações específicas entre adultos e crianças, destacando o papel dessas interações na promoção do desenvolvimento. No entanto, estudos subsequentes de vários autores começaram a adotar o conceito de maneira mais ampla, considerando a influência do indivíduo mais experiente sobre o menos experiente a partir da premissa da “experiência em determinado assunto”.
Zona de desenvolvimento proximal: Vygotsky e seu conceito
Lev Semionovich Vigotski (1896-1934) nasceu em Orsha, cidade localizada na atual Bielorrússia, e viveu durante o período ápice da revolução socialista na extinta União Soviética (URSS). Apesar de sua formação acadêmica em direito, história e filosofia, Vygotski também dedicou-se aos estudos de literatura e arte, nos quais realizou diversas pesquisas e trabalhos.
Durante alguns anos, Vygotski lecionou em diferentes institutos e escolas na cidade de Gomel. Nesse período, iniciou seus primeiros estudos em psicologia e pedagogia, simultaneamente continuando suas investigações nas áreas de literatura, arte e cultura.
Em meio ao seu crescimento pessoal e profissional, que incluiu a publicação de seus primeiros estudos e livros sobre psicologia, Vygotski e sua família enfrentaram as primeiras crises de tuberculose, que posteriormente se tornaram mais frequentes e impactantes em sua vida.
Em 1924, Vygotski ingressou no Instituto de Psicologia Experimental em Moscou, onde começou a desenvolver a “teoria histórico-cultural” em colaboração com seus colegas Alexander Romanovich Luria e Alexis N. Leontiev.
Ao mesmo tempo, no início do século XX, a Psicologia, ainda em seus estágios iniciais como uma disciplina científica independente, enfrentava uma crise significativa relacionada à metodologia utilizada em seu objeto de estudo.
Enquanto alguns a consideravam uma ciência natural e física, outros a percebiam como uma ciência subjetiva e filosófica. Essa divisão refletia diretamente a dicotomia proposta pela filosofia racionalista de Descartes, conhecida como “dualismo cartesiano”, que separava o ser humano em corpo e alma.
Surgiu, assim, uma dicotomia na psicologia: de um lado, uma abordagem mecanicista e naturalista, fundamentada na experimentação científica e focada no ambiente que envolve o indivíduo, notavelmente representada pelo behaviorismo.
Por outro lado, desenvolveu-se uma perspectiva idealista, concentrada na teorização filosófica do sujeito, que buscava compreender processos mentais internos complexos através da auto-observação e interpretação, exemplificada pela Gestalt, fenomenologia e, mais tarde, pela psicanálise. Essas abordagens diversas e opostas culminaram na chamada “crise da psicologia”.
A resolução desse impasse foi apresentada por Vigotski, Luria e Leontiev, que, sob a influência da filosofia materialista dialética do marxismo, iniciaram um movimento de unificação da psicologia, conhecido como psicologia histórico-cultural.
ZDP: como surgiu o conceito de zona de desenvolvimento proximal
Vygotsky concentrou-se na investigação dos processos de aprendizagem, construção do pensamento e desenvolvimento da linguagem diante do contexto em que atuava. Ao observar crianças com o mesmo nível de desenvolvimento e perceber diferenças na resolução de problemas, o pesquisador concluiu que a equivalência no quociente intelectual (QI) não garantia resultados similares quando confrontadas com exercícios mais complexos, especialmente quando envolvia a assistência de adultos.
Adicionalmente, estudos da época revelaram um fenômeno intrigante: crianças com QI inicial elevado perdiam pontos ao longo do período escolar, enquanto aquelas com QI inicial baixo tendiam a ganhar pontos, resultando em uma quase igualação de suas classificações ao longo desse processo. A questão que se colocava era como explicar esse padrão aparentemente contraditório.
Dessa forma, foi introduzido o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) por Vygotsky, com o propósito de compreender o processo de aprendizagem em crianças.
“ A distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes”
Vygotsky
Zona de desenvolvimento proximal: exemplos práticos
As interações relacionadas à Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) abrangem uma variedade de relações, podendo ser entre adulto e criança, entre pares ou até mesmo com um interlocutor ausente. O elemento distintivo da ZDP é a participação ativa e cooperativa na confrontação de compreensões diversas acerca de uma determinada situação.
No ambiente organizacional, por exemplo, um novo funcionário poderá se desenvolver em sua ZDP com o apoio de outras pessoas que estão há mais tempo naquela empresa, ou conforme vai tendo contato com outros mediadores, como registros e documentos que guardam informações importantes para o bom desempenho de suas atividades.
No âmbito educacional, os professores podem empregar a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) como uma ferramenta para avaliar o estágio de desenvolvimento de cada aluno, ajustando suas abordagens de ensino de acordo com as necessidades específicas de cada indivíduo.
Na psicologia, a ZDP é utilizada para compreender como as crianças desenvolvem habilidades cognitivas e sociais por meio de interações com seus colegas. No campo da terapia ocupacional, a ZDP é valiosa para planejar atividades que estimulem o desenvolvimento motor e cognitivo de pessoas com deficiências.
Zona de desenvolvimento proximal e a clínica histórico-cultural
A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é um conceito central na abordagem clínica histórico-cultural. Sob uma perspectiva dialética, torna-se crucial que psicólogos e psicólogas adotem intervenções ativas que busquem promover o desenvolvimento saudável e autônomo dos pacientes.
A ZDP oferece insights sobre o processo de aprendizagem e desenvolvimento tanto de crianças quanto de adultos. Esse conceito ressalta a importância da interação social, da colaboração e do apoio adequado para impulsionar o avanço no desenvolvimento das pessoas.
Ao compreender e aplicar devidamente a Zona de Desenvolvimento Proximal, psicólogos e terapeutas podem criar um ambiente de aprendizagem mais eficaz e enriquecedor para todos os seus pacientes.