Funções psicológicas superiores: a memória na PHC

O que é a memória, de acordo com a teoria das funções psicológicas superiores

A teoria das funções psicológicas superiores de Lev Vigotski é uma abordagem fundamental para entender o desenvolvimento cognitivo humano. Dentre essas funções, está a memória, considerada uma função muito importante para a saúde mental e o bem-estar dos indivíduos.

A memória é o armazenamento e a recuperação de experiências, percepções e pensamentos que uma pessoa vivencia ao longo da vida. Inicialmente, esse processo pode ocorrer de forma espontânea, onde o sujeito retém uma variedade de informações sem um esforço consciente. No entanto, à medida que as atividades humanas se tornam mais complexas, a retenção de informações pode evoluir para um ato consciente e intencional.

Quando um indivíduo enfrenta problemas e desafios ao longo da vida, ele acumula uma grande quantidade de experiências que são armazenadas na memória. Essas experiências podem ser acessadas posteriormente para auxiliar na resolução de novos problemas ou para fornecer insights sobre situações semelhantes. No entanto, é importante notar que a reprodução da memória não é um processo passivo.

Memória e a personalidade

A partir de bases materialistas, a forma como uma pessoa recorda e reproduz suas memórias está intrinsecamente ligada à sua personalidade e às suas percepções individuais. À medida que a consciência pessoal se desenvolve, o sujeito é capaz de refletir sobre os eventos do passado e compreender como essas experiências influenciam seus comportamentos e decisões no presente.

Essa reflexão permite que a pessoa tire conclusões e adquira uma compreensão mais profunda de si mesma e de suas interações com o mundo ao seu redor.

Portanto, a memória não é apenas um depósito passivo de informações, mas sim um processo dinâmico e ativo que molda a maneira como percebemos o mundo e como nos relacionamos com ele. É por meio da memória que construímos nossa identidade e nossa compreensão do mundo, integrando o passado ao presente e orientando nossas ações futuras.

memória e as funções psicológicas superiores

Memória e outras funções psicológicas superiores

A memória é um fenômeno complexo que envolve não apenas o armazenamento de informações, mas também processos psíquicos como atenção, interesse, emoções e linguagem, entre outros. Esses elementos influenciam diretamente a forma como as experiências são retidas e recordadas. A retenção de memórias ocorre através de um processo de apropriação, seleção, sistematização e síntese do que foi vivenciado.

A maneira como um indivíduo retém suas memórias está intimamente ligada às circunstâncias históricas e sociais em que vive. As experiências são moldadas pelo contexto em que ocorrem, incluindo o trabalho e as necessidades da sociedade em que o sujeito está inserido. Da mesma forma que nos animais, onde a memória está ligada às necessidades biológicas da atividade vital, como a memória olfativa dos cães.

Este tema levanta questões importantes sobre como o sujeito internaliza percepções ao longo da vida, desde a primeira infância. A forma como esses conteúdos são assimilados está intrinsecamente ligada ao contexto social e às mediações que o sujeito experimenta ao longo de sua história. Compreender o impacto dessas mediações no desenvolvimento das funções cognitivas superiores, que por sua vez influenciam a formação da memória, é crucial.

Ao analisar esses processos e trazer os conteúdos para a consciência, torna-se possível uma compreensão mais profunda do que é considerado relevante para o sujeito. Isso permite entender como o indivíduo valoriza diferentes aspectos do pensamento, sejam eles motores, cognitivos, afetivos, visuais ou outros. Assim, a reflexão sobre a formação da memória e sua relação com o contexto social e histórico do sujeito nos leva a uma compreensão mais ampla de como a mente humana se desenvolve e opera.

Como as memórias se fixam na mente

Na formação e fixação da memória, é importante considerar o papel seletivo que desempenha ao reter apenas o que é significativo e de interesse do sujeito. Essa seleção é influenciada pela atitude do sujeito, que por sua vez é afetada pela relação emocional com as situações vividas.

Experimentos conduzidos por Freud e Blonsky investigaram essa relação entre os aspectos emocionais e a retenção de memória. Freud enfatizou a retenção de momentos agradáveis, enquanto Blonsky destacou a importância dos momentos desagradáveis, como Rubinstein ressaltou em seus escritos.

Embora haja discordância entre esses estudos, é evidente que as experiências emocionalmente significativas são retidas com mais frequência do que aquelas que carecem de relevância emocional.

Além disso, a relação entre o evento e os interesses atuais da pessoa também desempenha um papel crucial. Por exemplo, a angústia ou alegria associadas a uma situação passada podem influenciar a forma como a pessoa percebe e lida com suas memórias no presente, refletindo sua personalidade e estado emocional atual.

Esses conceitos têm implicações significativas no contexto terapêutico, onde o diálogo sobre eventos passados significativos pode ajudar o paciente a explorar as emoções associadas a essas experiências.

Isso permite uma reflexão mais profunda sobre o impacto emocional dos eventos passados e possibilita a ressignificação dessas memórias, considerando o contexto social e histórico em que ocorreram. Ao trazer uma consciência mais ampla sobre esses eventos, o paciente pode começar a elaborar maneiras de lidar com suas emoções e experiências de forma mais construtiva.

Estágios da memória de acordo com Luria

Luria dedicou-se à investigação sobre a formação da memória, destacando dois estágios distintos: a memória de curto prazo, que retém vestígios por um curto período para atender demandas específicas, e a memória de longo prazo, que armazena vestígios por um período prolongado, resistindo aos efeitos de outras atividades.

Dentro dessa linha de raciocínio, diversos fatores influenciam o processo de formação da memória. A organização semântica, que envolve a disposição dos elementos em estruturas lógicas, contribui para a estabilidade dos vestígios através de associações significativas. Além disso, a estrutura da atividade desempenha um papel crucial, surgindo à margem da intenção de concluir uma tarefa. Nesse contexto, o sujeito retém informações mesmo de forma involuntária, destacando-se a peculiaridade de como cada indivíduo assimila os fenômenos para memorizá-los.

Luria identificou diversas formas de memorização, incluindo a audição, coordenação motora e a organização da própria atividade. Isso pode ocorrer tanto de maneira abstrata, através de formulações lógicas e conceituais, quanto de forma objetiva, por meio de estímulos sensoriais e propriedades específicas. Assim, a memória é concebida como uma função ativa e complexa, que transcende as formas naturais, sendo influenciada por processos voluntários e desenvolvidos culturalmente.

Psicologia Histórico Cultural e a Memória

Memória de acordo com Vigostki

Vigotski estabeleceu uma conexão entre os processos de formação da memória e as transformações que ocorrem durante esse processo. Ele observou que, por meio do pensamento, ocorre a recordação de objetos que são representados por símbolos com significados. Dessa forma, o pensamento, a memória e o significado estão intrinsecamente relacionados

 Além disso, a mediação da linguagem desempenha um papel fundamental nesse processo, permitindo a transição da memória visual imediata para formas de memorização verbal e conceitual, resultando na formação de uma memória lógica que reflete traços culturais.

À medida que a memória se internaliza, o pensamento passa a representar esses símbolos por meio de métodos racionais. Isso implica em uma organização intencional da atividade mental, exigindo uma atitude ativa por parte do sujeito para evocar essas memórias.

Sob essa perspectiva, torna-se evidente a importância da influência das mediações no desenvolvimento das funções cognitivas superiores, tanto durante os processos de aprendizagem na infância quanto no contexto clínico.

No contexto da infância, as mediações desempenham um papel fundamental no processo de aprendizagem, auxiliando as crianças a internalizarem conhecimentos e significados por meio da interação com o ambiente e com os adultos. Da mesma forma, no contexto clínico, a intervenção do terapeuta pode fornecer mediações que permitam ao sujeito atribuir novos conceitos e significados às suas experiências, facilitando o processo terapêutico e promovendo o desenvolvimento pessoal.

A memória na Psicologia Histórico-Cultural

A Psicologia Histórico-Cultural nos permite explorar a complexidade da memória dentro do contexto das funções psicológicas superiores. Assim, percebemos sua importância fundamental para a compreensão do desenvolvimento cognitivo humano e para a saúde mental e o bem-estar dos indivíduos.

A memória não é apenas um depósito passivo de informações, mas um processo dinâmico e ativo que se relaciona intimamente com outros aspectos do psiquismo humano, como emoções, linguagem e pensamento.

Ela é influenciada por diversos fatores, incluindo a seleção de experiências significativas, a relação emocional com essas experiências e o contexto social e histórico em que ocorrem. Essa interação entre a memória e outros aspectos da mente humana molda não apenas a forma como percebemos o mundo, mas também como nos relacionamos com ele e como nos desenvolvemos ao longo da vida.

Além disso, a compreensão dos estágios de formação da memória, conforme destacado por Luria, e das relações entre memória, pensamento e linguagem, conforme discutido por Vigotski, oferece insights importantes não apenas para a teoria psicológica, mas também para práticas terapêuticas e educacionais.

A consciência desses processos nos permite abordar de forma mais eficaz questões relacionadas à aprendizagem, ao desenvolvimento pessoal e à saúde mental, promovendo uma compreensão mais ampla e integrada da mente humana e de seu funcionamento.

Conheça meu trabalho como psicólogo histórico-cultural
Raphael Granucci Pequeno
Raphael Granucci Pequeno

Psicólogo clínico da abordagem histórico-cultural, escritor e pesquisador

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