A patopsicologia hoje em dia está muito alinhada ao conceito de psicologia da corporeidade. A aproximação desses conceitos é algo fundamental não apenas à patopsicologia, como também para a psicologia histórico-cultural.
Em 1930, Vygotsky já apontava para a necessidade de se compreender melhor a unidade psicofísica na procura por uma bem-estar. No entanto, talvez por conta de sua vida breve, ele não chegou a desenvolver essa ideia de maneira explícita em sua obra, tornando importante que os novos pesquisadores da área se apropriem da corporeidade e pensem em novas abordagens clínicas para levar isso em consideração.
Psicologia da corporeidade: o que é?
A Psicologia da Corporeidade é uma abordagem dentro da psicologia que se concentra no estudo da relação entre a mente, o corpo e a experiência humana. Ela busca compreender como a experiência psicológica e emocional está intimamente ligada à experiência corporal e como o corpo desempenha um papel fundamental na construção da identidade e na expressão de emoções.
Essa abordagem reconhece que a mente e o corpo não podem ser separados, e que a experiência humana é uma interação complexa entre os dois.
Logo, é importante ressaltar: a psicologia da corporeidade não implica em uma dicotomia entre corpo e psiquismo. Pelo contrário, ela compreende que estas duas instâncias constituem o indivíduo em sua totalidade.
Patopsicologia e inconsciente
De acordo com estudos desenvolvidos na Rússia, Cuba e Brasil, a área da patopsicologia também passou a estudar processos de adoecimento constituídos também pelo não consciente.
No trabalho de Nikolaeva e Arina, por exemplo, é apresentado o caso de uma criança, que imita um sintoma vivenciado dentro da família, fazendo-o de forma inconsciente, sem uma real intenção de realizá-lo.
Para essas autoras, a internalização e o surgimento de sintomas e da síndrome psicossomática ocorrem exatamente porque se relacionam com um conjunto de emoções. Mas também estão relacionadas a processos não conscientes.
A internalização, portanto, não seria algo consciente, visto que não é intencional. O mesmo acontece com o sintoma psicossomático.
Nesse caso, é interessante pensar: como e por que tais sintomas que limitam ou impedem que o indivíduo tenha controle sobre eles são internalizados e mantidos?
O inconsciente na psicologia histórico-cultural
Os conceitos da patopsicologia ajudam a enriquecer o debate da participação do inconsciente na Psicologia Histórico-Cultural.
Entretanto, é importante destacar que o conceito de inconsciente adotado por Vygotsky difere bastante do modelo apresentado por Freud. O inconsciente não seria uma instância própria do psiquismo e sim um modo de seu funcionamento, como apontado pelo criador da psicanálise. De maneira básica e bastante simples, o inconsciente na psicologia histórico-cultural é compreendido como a não-consciência, ou seja, aquilo que é feito sem a necessidade de total consciência, como nas atividades “automatizadas”.
Por isso, é essencial diferenciar o conceito de inconsciente para a psicologia histórico-cultural do conceito mais conhecido a partir da psicanálise.
A Patopsicologia, ao aprofundar-se em questões relacionadas à desintegração ou desorganização do psiquismo, revela que nesses cenários, a presença de processos não conscientes e inconscientes tende a aumentar. Em situações mais severas, esses processos podem superar a consciência, resultando em uma diminuição da autonomia e do controle das ações por parte dos indivíduos.
Os casos de dependências de substâncias psicoativas são grandes exemplos dessa dinâmica. No entanto, podemos observá-la também nos transtornos obsessivos-compulsivos, transtorno bipolar (especialmente nos quadros de mania), entre outros.
Porém, também é importante destacar: o inconsciente é um aspecto constitutivo do adoecimento e não a sua causa. Por isso, é essencial levar em conta as contribuições que a psicologia da corporeidade pode trazer para a prática clínica da psicologia histórico-cultural e da patopsicologia, a fim de criar uma abordagem terapêutica mais holística e completa.