A Psicologia Decolonial é uma abordagem emergente e revolucionária. Ela desafia as normas tradicionais da psicologia e busca desmantelar estruturas coloniais que permeiam as teorias, práticas e instituições psicológicas.
Este movimento, enraizado na crítica pós-colonial, busca promover uma psicologia mais inclusiva, justa e culturalmente sensível.
Como surgiu a psicologia decolonial
A Psicologia Decolonial tem suas raízes nas teorias críticas pós-coloniais que surgiram nas décadas de 1970 e 1980. Ela se desenvolveu como resposta à crescente consciência das formas sutis e não tão sutis de colonização que continuam a afetar as sociedades contemporâneas.
No contexto da psicologia, isso se traduz em uma análise crítica das teorias e práticas que historicamente desconsideraram ou marginalizaram culturas não ocidentais.
Psicologia decolonial: o que é
A Psicologia Decolonial é uma abordagem crítica e transformadora na área da psicologia que se concentra na descolonização das práticas, teorias e estruturas psicológicas. Ela busca desafiar e superar as influências coloniais que historicamente moldaram e continuam a influenciar a psicologia, particularmente em contextos eurocêntricos.
Esse conceito tem suas raízes no movimento mais amplo da Teoria Decolonial, que emerge da crítica pós-colonial e busca desmantelar as hierarquias e estruturas de poder que foram estabelecidas durante a era colonial.
A Psicologia Decolonial não é apenas uma crítica à psicologia existente, mas também uma proposta de transformação. Ela sugere que a psicologia deve ser mais inclusiva, diversa e consciente de seu próprio passado colonial.
É importante ressaltar que a Psicologia Decolonial não é uma panaceia, mas uma abordagem que complementa e aprimora a prática psicológica tradicional. Ela se concentra na descolonização das mentes e na promoção da igualdade e da justiça.
Portanto, trata-se de uma abordagem que busca expandir o campo da psicologia para que ele seja mais relevante e eficaz em contextos culturalmente diversos e na luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
Fundamentos da psicologia decolonial
Os princípios fundamentais da psicologia decolonial ajudam a identificar os processos que se originam nas opressões colonizadores. Confira abaixo os principais.
Desconstrução da universalidade
A Psicologia Decolonial contesta a ideia de que os princípios psicológicos são universalmente aplicáveis. Em vez disso, reconhece a diversidade cultural e a importância de compreender a psicologia dentro de contextos culturais específicos.
Valorização das vozes marginalizadas
Esta abordagem dá destaque às vozes e experiências de grupos marginalizados, desafiando a tendência histórica de dar prioridade às perspectivas ocidentais.
Intersubjetividade e relacionalidade
A Psicologia Decolonial enfatiza a natureza relacional e intersubjetiva da psicologia, reconhecendo que a identidade e a psicologia individual são moldadas por relações culturais e sociais.
Descolonização da prática clínica
Na prática clínica, a Psicologia Decolonial encoraja os profissionais a considerar a história cultural e social de seus pacientes, bem como suas próprias influências coloniais, para criar uma relação terapêutica mais autêntica e empática, combatendo o racismo, o machismo, a lgbtfobia e outras formas de violência.
Impactos da decolonialidade na prática psicológica
A Psicologia Decolonial tem várias implicações práticas para a psicologia. Ela instiga uma mudança significativa nas abordagens de pesquisa, terapia e educação psicológica. Alguns dos aspectos mais notáveis incluem:
Pesquisa sensível à cultura
Os pesquisadores são encorajados a adotar abordagens mais sensíveis à cultura ao projetar e conduzir estudos psicológicos. Isso envolve a colaboração próxima com comunidades locais e a consideração das perspectivas e práticas culturais.
Terapia culturalmente competente
A prática clínica é enriquecida quando os terapeutas adotam uma abordagem culturalmente competente, compreendendo as experiências culturais de seus clientes e adaptando as intervenções de acordo.
Educação psicológica inclusiva
A formação de psicólogos inclui (ou deveria incluir) uma ênfase crescente na educação sobre Psicologia Decolonial. Isso ajuda a preparar futuros profissionais para trabalhar em um mundo cada vez mais diverso.
Psicologia Histórico-Cultural é Decolonial?
Toda abordagem psicológica só poderá ser decolonial se levar em consideração os fundamentos da decolonialidade. Ou seja, além de se focar em questões culturais, é muito importante que o profissional esteja atento às armadilhas que a colonialidade pode implicar nas construções clínicas e terapêuticas.
A Psicologia Histórico-Cultural (PHC) e a Psicologia Decolonial compartilham alguns princípios e ideias fundamentais que as tornam complementares e, em muitos aspectos, convergentes. Embora não sejam a mesma coisa, a PHC pode ser considerada decolonial em vários aspectos.
Aqui estão algumas razões pelas quais a PHC é vista como decolonial:
Enfoque no contexto e na história
A PHC coloca uma forte ênfase na influência do contexto social e histórico no desenvolvimento humano. Isso é fundamental para uma abordagem decolonial, que busca compreender como as experiências individuais são moldadas por fatores culturais e históricos, incluindo o impacto do colonialismo.
Ênfase na cultura
Assim como a Psicologia Decolonial, a Psicologia Histórico Cultural reconhece a importância da cultura na formação da psicologia e do comportamento humanos. Ela busca entender como as práticas culturais, os valores e as normas influenciam o desenvolvimento individual e as interações sociais.
Abordagem dialética
A PHC utiliza uma abordagem dialética marxista para compreender o desenvolvimento humano, enfatizando a interação entre o indivíduo e seu ambiente. Essa perspectiva é consistente com a visão decolonial, que enfatiza a importância das relações e interações na construção da psicologia e da identidade.
Ênfase na transformação social
A PHC compartilha com a Psicologia Decolonial a preocupação com a transformação social e a justiça. Ela reconhece que a mudança social é fundamental para criar condições mais justas e equitativas para o desenvolvimento humano, o que é uma meta central da Psicologia Decolonial.
Crítica às estruturas de poder
Ambas as abordagens são críticas em relação às estruturas de poder que perpetuam desigualdades e marginalização. A PHC busca entender como as estruturas sociais afetam o desenvolvimento humano, enquanto a Psicologia Decolonial questiona as estruturas de poder coloniais e busca desmantelá-las.
Inclusão de diversas perspectivas
Tanto a PHC quanto a Psicologia Decolonial valorizam a inclusão de diversas perspectivas e vozes, reconhecendo a importância de dar voz às experiências marginalizadas e não ocidentais.
Psicologia Decolonial e a comunidade LGBTQIAPN+
A Psicologia Decolonial pode oferecer vários benefícios à população LGBTQIAPN+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer, Intersexuais, Assexuais, Pansexuais e Não-Binários), assim como a outras populações marginalizadas.
Quando aplicada de forma ética e sensível à cultura, ela pode contribuir significativamente para o bem-estar e a inclusão da população LGBTQIAPN+. Aqui estão algumas maneiras pelas quais essa abordagem pode ser benéfica:
Desconstrução de estereótipos e normas culturais
A Psicologia Decolonial desafia as normas culturais e estereótipos que frequentemente contribuem para a estigmatização da comunidade LGBTQIAPN+. Ela questiona as ideias preconcebidas e promove a compreensão de que a sexualidade e a identidade de gênero são construções sociais complexas, não limitadas a padrões normativos.
Reconhecimento da interseccionalidade
A Psicologia Decolonial reconhece a importância da interseccionalidade, ou seja, a sobreposição de identidades e experiências. Muitos indivíduos LGBTQIAPN+ também pertencem a grupos étnicos, raciais, religiosos ou socioeconômicos diversos. A abordagem decolonial considera essas interseções e como elas impactam a experiência de uma pessoa.
Empoderamento e resgate de identidades culturais
A Psicologia Decolonial valoriza e empodera a comunidade LGBTQIAPN+ para reivindicar suas identidades culturais e históricas. Ela reconhece que muitas culturas têm tradições de aceitação de identidades de gênero e orientações sexuais diversas, e ajuda a resgatar essas histórias para fortalecer o senso de pertencimento.
Combate à discriminação e à violência
A Psicologia Decolonial busca combater ativamente a discriminação e a violência direcionadas à comunidade LGBTQIAPN+. Ela encoraja a solidariedade entre diferentes grupos marginalizados, promovendo ações para criar sociedades mais justas e igualitárias.
Promoção da saúde mental
A abordagem decolonial reconhece o impacto negativo que a discriminação e o estigma podem ter na saúde mental das pessoas LGBTQIAPN+. Ela promove práticas terapêuticas que são sensíveis à cultura e à identidade de gênero, ajudando a melhorar o bem-estar psicológico da comunidade.
Participação ativa em mudanças sociais
A Psicologia Decolonial incentiva a comunidade LGBTQIAPN+ a ser uma força ativa na luta por mudanças sociais. Ela apoia a advocacia por direitos iguais, a inclusão nos sistemas educacionais e de saúde e a promoção de políticas públicas que atendam às necessidades da comunidade.
Diálogo e compreensão intercultural
A Psicologia Decolonial promove o diálogo intercultural, o que pode ser particularmente valioso quando se tratam de questões de orientação sexual e identidade de gênero. Ela ajuda a criar pontes entre diferentes perspectivas culturais, promovendo um entendimento mais profundo e respeitoso.
Psicólogo decolonial: onde encontrar
Identificar um psicólogo que adote uma abordagem decolonial requer alguma pesquisa e consideração, já que essa abordagem não é necessariamente amplamente divulgada e pode variar em sua aplicação. Aqui estão algumas dicas que podem ajudar a identificar um psicólogo com uma perspectiva decolonial:
- Pesquise na internet: Comece pesquisando online usando termos como “psicólogo decolonial”, “psicoterapia decolonial” ou “psicologia crítica”. Isso pode ajudar a identificar profissionais ou clínicas que se identificam como decoloniais ou que têm experiência nessa área.
- Verifique credenciais: Certifique-se de que o profissional seja um psicólogo licenciado ou tenha credenciais apropriadas em psicologia. Verifique as credenciais em sites de órgãos reguladores de psicologia em seu país.
- Leia o perfil profissional do psicólogo: Muitos psicólogos têm perfis online que descrevem suas áreas de especialização e abordagens terapêuticas. Leia atentamente esses perfis para ver se eles mencionam uma abordagem decolonial ou a sensibilidade à diversidade cultural.
- Entre em contato diretamente: Entre em contato com o psicólogo e faça perguntas específicas sobre sua abordagem e perspectiva em relação à diversidade cultural, colonialismo e questões de justiça social. Pergunte sobre sua formação e experiência em trabalhar com populações culturalmente diversas.
- Peça recomendações: Pergunte a amigos, familiares ou colegas se eles conhecem psicólogos que trabalham com uma abordagem decolonial. Recomendações pessoais podem ser valiosas.
- Avalie a abordagem terapêutica: Além da abordagem decolonial, considere a abordagem terapêutica que o psicólogo utiliza. Por exemplo, a Psicologia Histórico-Cultural (PHC) leva em consideração fatores da cultura durante o atendimento.
- Entrevista inicial: Agende uma entrevista inicial com o psicólogo para discutir suas preocupações, objetivos e expectativas. Isso também oferece a oportunidade de avaliar a compatibilidade pessoal e ter uma ideia melhor de como o profissional aborda as questões culturais e sociais.
- Confiança e conforto: O aspecto mais importante é sentir-se confortável e confiante no psicólogo que escolher. A relação terapêutica é fundamental para o sucesso da terapia, independentemente da abordagem específica.
Entre em contato comigo e agende uma sessão para conhecer mais sobre o meu trabalho e como podemos elaborar um plano terapêutico dentro das suas necessidades.
