Psicologia Histórico-Cultural: o que é e como essa abordagem é aplicada

Psicologia Histórico-Cultural: o que é

Psicologia Histórico-Cultural é uma das diversas áreas da psicologia. Essa abordagem enfatiza a influência do ambiente social e cultural no desenvolvimento psicológico do indivíduo.

Ao considerar que a mente é fortemente influenciada pelas interações sociais e pelo contexto cultural, essa perspectiva enriquece a compreensão dos processos psicológicos e das capacidades cognitivas humanas.

Através do reconhecimento da Zona de Desenvolvimento Proximal e da mediação cultural, a PHC (Psicologia Histórico-Cultural) fornece insights importantes para a educação, a intervenção clínica e o desenvolvimento infantil, contribuindo para uma visão mais contextualizada do ser humano.

Psicologia Histórico-Cultural: o que é?

A Psicologia Histórico-Cultural, também conhecida como abordagem sociocultural ou sócio-histórica, foi desenvolvida pelo psicólogo russo Lev Vygotsky durante a primeira metade do século XX. Essa perspectiva teórica parte do pressuposto de que a mente humana é moldada pelas interações sociais e pelos contextos culturais em que o indivíduo está inserido.

Dessa forma, o desenvolvimento psicológico é compreendido como um processo histórico, que ocorre ao longo do tempo e é influenciado pelas transformações culturais e sociais.

Vigotski foi influenciado pelo marxismo e pelas ideias do materialismo histórico-dialético, que eram predominantes na Rússia da época.

A Dialética Marxista e a Relação Sujeito-Objeto na Psicologia Histórico-Cultural

Dentro das bases epistemológicas da Psicologia Histórico-Cultural estão as obras de Espinosa e de Karl Marx.

Uma das principais contribuições da dialética marxista para a Psicologia Histórico-Cultural foi a compreensão da relação sujeito-objeto. A dialética marxista considera que o ser humano não é um ente isolado, mas sim um ser social, cujas ações e pensamentos são moldados pelo contexto em que vive. Ou seja, trate-se de uma psicologia de base materialista.

A realidade é vista como um processo em constante mudança e contradição, e o indivíduo é parte ativa desse processo histórico, sendo influenciado por ele e, ao mesmo tempo, o influenciando.

Principais Conceitos da Psicologia Histórico-Cultural

Podemos destacar três principais conceitos da PHC:

Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP): Um dos conceitos centrais propostos por Vigotski, a ZDP refere-se à distância entre o nível de desenvolvimento atual de uma pessoa e o seu potencial máximo, que pode ser alcançado com o apoio de um guia mais experiente, como um professor ou um colega mais capaz. A ideia é que o aprendizado e a aquisição de habilidades ocorrem de maneira mais eficaz quando uma pessoa é auxiliada por outra que compreenda o assunto de forma mais avançada.

Mediação: A mediação é um processo-chave na Psicologia Histórico-Cultural. Ela ocorre quando as ferramentas culturais, como a linguagem, símbolos e instrumentos, são utilizadas para facilitar a aprendizagem e a compreensão de conceitos. Através da mediação, o indivíduo internaliza conhecimentos e habilidades que lhe são transmitidos pelo meio social.

Funções Psicológicas Superiores (FPS): Vygotsky também cunhou o termo “funções psicológicas superiores” para se referir a habilidades cognitivas complexas que se desenvolvem ao longo do tempo com a mediação cultural. Essas funções incluem a resolução de problemas, o pensamento abstrato, a autorregulação emocional e a memória consciente.

Comportamento fossilizado: O conceito de comportamento fossilizado diz respeito aos hábitos e respostas aprendidas que constituem a personalidade, a subjetividade e o enfrentamento das situações do dia a dia. Até mesmo aquilo que foi repetido por muito tempo pode ser mudado. Portanto, esse tipo de comportamento deve ser identificado para que, durante o processo terapêutico, seja possível conseguir outras maneiras de agir.

Lev Vygotsky foi o criador da Psicologia Histórico-Cultural

A importância da Mediação e da Zona de Desenvolvimento Proximal

A mediação e a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) estão intimamente ligadas à dialética marxista.

A mediação refere-se ao papel crucial da cultura e das ferramentas sociais (como a linguagem, por exemplo) na formação das funções mentais superiores dos indivíduos. Essas funções são adquiridas através da interação com o meio e são mediadas por símbolos e signos culturais.

A Zona de Desenvolvimento Proximal é uma noção que enfatiza a importância do aprendizado cooperativo e da assistência mútua. Nesse contexto, a interação com um guia mais experiente, como um professor ou um colega, é vista como fundamental para que o indivíduo alcance seu potencial máximo de desenvolvimento.

Essa interação está alinhada com a perspectiva marxista de que a colaboração social é essencial para o progresso e a evolução da sociedade como um todo.

PHC e a Psicologia Decolonial

A convergência entre a Psicologia Histórico Cultural e a Psicologia Decolonial reside na ênfase compartilhada na importância do contexto, da cultura e das relações sociais na compreensão da psicologia humana e na busca por justiça social. Embora não sejam idênticas, essas abordagens podem ser vistas como aliadas na promoção de uma psicologia mais inclusiva e decolonial.

Psicologia Histórico-Cultural: como funciona na prática

A aplicação da Psicologia Histórico-Cultural na prática profissional de psicólogos baseia-se na compreensão da importância das influências sociais e culturais no desenvolvimento humano, assim como nos fundamentos da neuropsicologia.

Alguns aspectos fundamentais são:

Educação: Na área educacional, a abordagem histórico-cultural é empregada para desenvolver métodos de ensino que levem em conta a Zona de Desenvolvimento Proximal dos alunos. Os educadores buscam oferecer suporte adequado para que os estudantes possam avançar em seu aprendizado, mediando o conhecimento de forma a torná-lo significativo e contextualizado.

Intervenção Clínica: Em ambientes clínicos, a psicologia histórico-cultural pode ser utilizada para entender as origens dos problemas psicológicos de um indivíduo, considerando sua história pessoal e cultural. A terapia busca promover a superação de dificuldades por meio da mediação e da reconstrução de significados.

Desenvolvimento Infantil: No contexto do desenvolvimento infantil, a abordagem histórico-cultural enfatiza a importância do papel dos pais, cuidadores e educadores na formação das funções mentais superiores da criança. Brincadeiras, jogos e interações sociais são vistos como ferramentas essenciais para o progresso cognitivo.

Compreende-se que a psicologia histórico-cultural não procura rotular características de personalidade específicas, ao contrário de algumas outras teorias psicológicas, pois reconhece que tais características não são fixas e que seu processo de desenvolvimento não termina na idade adulta. Além disso, a teoria não acredita que os alicerces de sua formação residem principalmente nas experiências da infância

PHC: Psicologia Histórico-Cultural hoje em dia

Muitos psicólogos e psicólogas seguem aplicando e desenvolvendo a psicologia histórico-cultural a partir das ideias de Vygotsky, como é o caso da patopsicologia, desenvolvida por Bluma Zeigarnik. Por isso, é comum ver profissionais dessa abordagem atuando na clínica, em escolas, em hospitais, em ONGs e muitos outros espaços onde a psicologia se faz necessária, inclusive no atendimento psicológico online.

Psicologia Histórico-Cultural: onde encontrar um psicólogo dessa abordagem

Se você se interessou pela abordagem histórico-cultural e está buscando um terapeuta que siga esse linha, conheça um pouco mais sobre o meu trabalho.

Com formação em Psicologia Histórico-Cultural Clínica pelo Núcleo de Psicologia Histórico-Cultural do Ceará, levo as ideias e teorias de Vygotsky e outros teóricos dessa linha para os meus atendimentos. Saiba mais aqui sobre a minha formação e minha história.

Conheça meu trabalho como psicólogo histórico-cultural
Raphael Granucci Pequeno
Raphael Granucci Pequeno

Psicólogo clínico, escritor e pesquisador

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