No universo da saúde mental, os termos “psiquiatra” e “psicólogo” muitas vezes são utilizados de forma intercambiável, o que pode gerar confusão sobre as funções e abordagens de cada profissional. Para esclarecer essas diferenças e orientar sobre a escolha adequada diante das diversas demandas, é fundamental compreender as especificidades de cada área.
Há distinções notáveis entre esses profissionais que atuam na área de saúde mental, e é valioso entender essas diferenças antes de tomar uma decisão sobre qual buscar.
Psiquiatra: o que é e o que faz
Os psiquiatras são profissionais da saúde que, após concluírem o curso de medicina, se especializam em psiquiatria. Como médicos, possuem a exclusividade na prescrição de medicamentos. Inicialmente, os psiquiatras praticavam a chamada “terapia falada”, dedicando períodos de 45 minutos a uma hora para explorar diversos aspectos com seus clientes. Contudo, a década de 1950 marcou uma mudança significativa com o surgimento de medicamentos para tratar transtornos mentais.
Com o advento dessas medicações, a psiquiatria passou a adotar uma abordagem mais centrada no aspecto biológico, com foco na avaliação, diagnóstico e tratamento principalmente por meio de medicamentos. Muitos psiquiatras, seguindo essa abordagem, conduzem avaliações iniciais longas, prescrevem medicações e realizam monitoramento mensal para verificar a eficácia do tratamento.
É possível observar uma mudança de enfoque também influenciada pelo contexto dos convênios médicos, nos quais a qualidade do tratamento pode ser prejudicada em prol do lucro. Dado que os psiquiatras frequentemente recebem honorários mais elevados, alguns convênios procuram restringir suas funções, limitando o pagamento a serviços essenciais de prescrição de medicamentos, tarefa exclusiva desses profissionais.
Embora alguns psiquiatras mantenham a prática da “terapia falada” tradicional, muitos preferem focar no gerenciamento de sintomas e monitoramento de medicamentos psiquiátricos, como antidepressivos e ansiolíticos. Em colaboração com outros profissionais da saúde mental, que frequentemente utilizam a psicoterapia como principal abordagem para promover mudanças, os psiquiatras desempenham um papel crucial.
Os psiquiatras são regulamentados pelo Conselho Regional de Medicina, responsável por supervisionar seu treinamento, padrões éticos e diretrizes profissionais. Além disso, o conselho fornece o CID (Código Internacional de Doenças), editado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é uma referência comum para diagnósticos de doenças mentais e é amplamente utilizado por psicoterapeutas.
Quando consultar um psiquiatra:
- Tratamento de transtornos mentais que envolvem alterações bioquímicas no cérebro, como depressão, transtorno bipolar e esquizofrenia.
- Necessidade de prescrição de medicamentos psicotrópicos.
- Avaliação e gestão de riscos associados a doenças mentais graves.
Psiquiatria, homossexualidades, bissexualidades e transexualidades
Em 1973, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) tomou uma decisão histórica após analisar os dados de pesquisa disponíveis sobre a homossexualidade. O corpo de diretores da APA concluiu que a homossexualidade em si não deveria ser considerada uma doença mental. A maioria dos membros da organização votou pela revogação da decisão anterior, marcando um momento significativo na compreensão da homossexualidade.
No ano de 1986, todas as referências à homossexualidade como uma condição patológica foram removidas do Código Internacional de Doenças (CID). Dois anos depois, em 1988, a APA emitiu uma condenação oficial às terapias que tinham como objetivo transformar indivíduos gays e lésbicas em heterossexuais, reafirmando seu compromisso com a aceitação da diversidade sexual.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) seguiu uma trajetória semelhante em relação à transexualidade. Em 2018, a OMS retirou o chamado “transtorno de identidade sexual” ou “transtorno de identidade de gênero” de sua lista de doenças. Essa mudança foi uma resposta a demandas do movimento transgênero internacional, incluindo organizações de travestis e transexuais no Brasil. A OMS justificou a atualização no CID, afirmando que refletia o progresso da medicina e os avanços na pesquisa científica.
Embora a informação sobre a mudança tenha sido divulgada em 2018, a oficialização ocorreu durante a 72ª Assembleia Mundial da Saúde em maio de 2019, quando a nova edição do CID foi adotada. Cada país teve até 1º de janeiro de 2022 para se adaptar à nova norma, destacando o compromisso global com o reconhecimento da diversidade de orientações sexuais e identidades de gênero, e a superação de estigmas e patologização associados a essas questões.
Psicólogo: o que é e o que faz
Os psicólogos, ao contrário dos psiquiatras, não possuem necessariamente formação médica. O campo da psicologia se desenvolveu no âmbito acadêmico das instituições educacionais, fora das escolas de medicina. Para se tornar um psicólogo, é necessário obter uma graduação em psicologia em uma universidade reconhecida, podendo também buscar níveis mais avançados, como mestrado ou doutorado.
Embora haja áreas de sobreposição entre psiquiatras e psicólogos, ambos capacitados para fornecer diagnósticos e tratamentos psicológicos, existem distinções cruciais. Os psicólogos, por não terem frequentado uma escola de medicina, não têm a prerrogativa de prescrever medicamentos como parte do tratamento. Entretanto, eles podem colaborar com psiquiatras, que possuem essa capacidade, para a prescrição e monitoramento medicamentoso, quando julgado necessário e apropriado por ambos os profissionais.
Os psicólogos geralmente têm especialização em realizar diversas formas de avaliações psicológicas, incluindo testes de inteligência, avaliação de distúrbios de aprendizagem, testes de personalidade e avaliações neuropsicológicas. Eles podem seguir diferentes abordagem teóricas, como a Psicologia Histórico-Cultural, por exemplo.
A representação dos psicólogos é feita pelos conselhos regionais e pelo Conselho Federal de Psicologia, que supervisionam aspectos éticos, padrões de prática e regulamentações da profissão. Essa estrutura regulatória visa assegurar a qualidade dos serviços prestados por psicólogos, além de garantir o respeito aos princípios éticos no exercício da profissão.
Quando consultar um psicólogo
- Questões emocionais e comportamentais, como ansiedade, estresse, fobias e traumas.
- Tratamento de transtornos mentais, com acompanhamento de medicação por um psiquiatra ou não.
- Busca por autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.
- Aconselhamento e suporte psicológico em situações de vida desafiadoras.
Psicólogo, homossexualidades, bissexualidades e transexualidades
A psicologia contemporânea considera a homossexualidade, bissexualidade e transexualidade como variações normais da expressão da sexualidade humana. As principais organizações de psicologia e os conselhos profissionais têm adotado posições que buscam promover a compreensão, aceitação e respeito pela diversidade sexual e de gênero.
No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) também se posiciona contra a prática de terapias de reversão sexual, reforçando a importância do respeito à diversidade sexual e a promoção de ambientes inclusivos.
O CFP também reforça a importância de garantir a identidade de gênero autodeclarada da pessoa, apoiando ações que promovam a igualdade e respeitem a diversidade de identidades de gênero.
Quem pode oferecer psicoterapia?
A psicoterapia não é uma exclusividade do psiquiatra ou do psicólogo. Qualquer um desses dois profissionais pode oferecer sessões de psicoterapia, desde que bem preparado e atendendo às normas da Organização Mundial da Saúde e de seus respectivos Conselhos.
Psicoterapia: o que faz um psicoterapeuta?
Um psicoterapeuta é um profissional capacitado para abordar e tratar transtornos mentais, aplicando técnicas comportamentais ou psicológicas para auxiliar os clientes em processos de mudança. Este termo amplo abrange diversos tipos de profissionais, frequentemente denominados simplesmente como terapeutas. Entre eles, os psiquiatras e psicólogos são os mais comuns.
Psiquiatra ou psicólogo: qual escolher?
A escolha entre psiquiatra e psicólogo depende da natureza do problema apresentado. Em muitos casos, a combinação de ambos os profissionais é benéfica, permitindo uma abordagem integrada que considera tanto os aspectos biológicos quanto os psicológicos.
O diálogo aberto com ambos os profissionais pode oferecer uma visão abrangente e personalizada, garantindo um tratamento mais completo e eficiente para as demandas específicas de cada indivíduo.
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