Síndrome de Burnout: o que é e como tratar

Síndrome de Burnout: o que é e como tratar

Síndrome de Burnout  emergiu como um problema de saúde pública global. Caracterizado por exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização pessoal no trabalho, o burnout afeta não apenas a saúde dos indivíduos, mas também a produtividade das organizações e a sociedade como um todo. 

Burnout, frequentemente considerado como uma resposta ao estresse crônico, está recebendo um reconhecimento cada vez maior como um desafio de saúde pública.

Isso ocorre devido à sua ligação não somente com questões de saúde, notavelmente a depressão, mas também com consequências socioeconômicas, incluindo absenteísmo, alta rotatividade profissional e aumento dos gastos em previdência.

Em alguns países, como a Suécia, ele evoluiu para adquirir o status de transtorno psiquiátrico, enquanto na França, sua aceitação é parcial e focada em determinadas categorias, como os enfermeiros.

No contexto brasileiro, o burnout foi reconhecido como uma doença relacionada ao trabalho já em 1999, de acordo com a legislação. No entanto, sua aceitação como tal ainda permanece limitada, sujeita a uma complexa interação de forças entre pesquisadores, profissionais de saúde, sindicatos e empresas.

O que é a Síndrome de Burnout?

esgotamento profissional conhecido como Síndrome de Burnout não é algo recente.

O termo “burnout”, traduzido informalmente como “combustão completa” em inglês, foi cunhado pelo psicanalista norte-americano Herbert Freudenberger durante os anos 1970. Ele criou esse conceito de Síndrome de Burnout para descrever a sensação de esgotamento físico e mental experimentada por profissionais de saúde que estavam envolvidos no atendimento a usuários de drogas.

Inicialmente identificado nas esferas de cuidado e serviços, como saúde, assistência social, serviços legais, aplicação da lei e bombeiros, além da educação, a síndrome de burnout foi tradicionalmente definido como uma síndrome psicológica composta por três dimensões distintas:

  • Exaustão emocional: Sentimento de esgotamento emocional, fadiga constante e falta de energia, levando a uma sensação de esgotamento.
  • Despersonalização: Atitude cínica e distante em relação ao trabalho e às pessoas, acompanhada de uma falta de empatia e de envolvimento emocional.
  • Diminuição da realização pessoal: Sentimento de inadequação profissional, baixa autoestima e diminuição da satisfação com as realizações no trabalho, incluindo sentimentos de incompetência e redução na produtividade.

No contexto brasileiro, o termo “burnout” emerge como uma expressão técnica desde o início, sendo introduzido precocemente em uma lista diagnóstica chamada “Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho“.

A pesquisa sobre esse tema, que teve início no final da década de 1980, desenvolveu-se principalmente dentro do campo emergente da saúde coletiva – com foco especial na saúde do trabalhador – além de abranger a saúde ocupacional e a psicologia organizacional. Essa pesquisa concentrou-se principalmente em profissionais da área da saúde e educadores.

O que é a síndrome de burnout?

Sintomas de Burnout: como diagnosticar o Burnout

Apesar de haver controvérsias em relação ao seu status como uma nosologia definida, o burnout é geralmente abordado de maneira semelhante a uma condição médica: o diagnóstico é realizado por meio de um inventário de “sintomas” (usando o MBI), seja por um psiquiatra ou psicólogo.

Os sintomas da síndrome de burnout podem variar de pessoa para pessoa e podem ser manifestados de diferentes maneiras, incluindo a presença de transtornos de ansiedade, em alguns casos. No entanto, geralmente, o burnout é caracterizado pelas três dimensões principais já citadas:

  • Exaustão emocional;
  • Despersonalização;
  • Baixa realização pessoal.

Além dessas dimensões principais, os sintomas do burnout também podem incluir:

  • Dificuldade em se concentrar ou se motivar;
  • Irritabilidade e impaciência;
  • Insônia ou distúrbios do sono;
  • Dores de cabeça ou problemas gastrointestinais;
  • Queda no desempenho no trabalho;
  • Aumento do uso de álcool ou substâncias para lidar com o estresse;
  • Isolamento social e falta de interesse em atividades anteriormente prazerosas.

Vale ressaltar que o diagnóstico de burnout deve ser feito por um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra, após uma avaliação completa dos sintomas e do contexto da pessoa. Se você ou alguém que você conhece está enfrentando esses sintomas de forma persistente, é importante buscar ajuda profissional.

Como saber se estou com Burnout

Identificar se você está enfrentando o burnout requer a avaliação de seus sentimentos, comportamentos e experiências em relação ao trabalho e à vida em geral. Aqui estão alguns sinais que podem indicar a presença da síndrome de burnout:

  1. Exaustão constante: Se você está se sentindo constantemente cansado, sem energia e emocionalmente esgotado, mesmo após períodos de descanso, isso pode ser um sinal de burnout.
  2. Despersonalização: Se você está se tornando cínico em relação ao trabalho, sentindo-se distante das tarefas e das pessoas, e desenvolvendo uma atitude negativa em relação a elas, isso pode ser um indício de despersonalização.
  3. Baixa realização pessoal: Se você está se sentindo ineficaz em seu trabalho, percebendo que suas realizações não têm significado e experimentando uma sensação geral de falta de satisfação, isso pode ser um sinal de baixa realização pessoal.
  4. Dificuldade de concentração: Se você está achando difícil se concentrar, tomar decisões ou se motivar para cumprir suas responsabilidades, isso pode ser um sintoma de burnout.
  5. Alterações no comportamento: Mudanças em seus hábitos de trabalho, como procrastinação, perda de produtividade e aumento do uso de álcool ou substâncias, podem indicar a presença do burnout.
  6. Sintomas físicos: Dores de cabeça frequentes, problemas gastrointestinais, distúrbios do sono e outros sintomas físicos podem estar associados ao burnout.
  7. Isolamento social: Se você está se afastando de amigos, familiares ou atividades sociais que costumava desfrutar, isso pode indicar que o burnout está afetando sua vida pessoal.

Se você identificar vários desses sinais em sua vida, é importante considerar a possibilidade de estar enfrentando o burnout. Caso esses sintomas persistam e estejam afetando significativamente sua saúde mental, bem-estar e qualidade de vida, é altamente recomendável buscar ajuda profissional.

Um psicólogo ou psiquiatra poderá realizar uma avaliação mais completa e fornecer orientação sobre como lidar com essa situação.

Como tratar Burnout

tratamento da Síndrome de Burnout envolve tanto a psicoterapia quanto, em casos mais intensos, medicamentos.

No entanto, o grau de medicalização varia entre os países. Conforme mencionado anteriormente, alguns países o reconheceram oficialmente como um diagnóstico, enquanto em outros ele permanece mais como uma questão psicológica.

Por isso, é essencial buscar ajuda profissional, seja com um psicólogo ou psiquiatra.

Fazer psicoterapia, mudar seus hábitos, começar uma atividade física e buscar o equilíbrio fazem parte do tratamento. Em alguns casos, pode ser necessário se afastar das suas atividades habituais para que o tratamento possa começar, especialmente nas situações em que o próprio trabalho foi o causador desses problemas.

Medicalização e Burnout

Para entender o fenômeno do burnout, é essencial não apenas considerá-lo sob a perspectiva de sua medicalização, mas também reconhecê-lo como um objeto de psicologização.

Isso requer a compreensão da estreita interconexão entre esses dois processos, que são tão intrincados que justificam o uso da expressão “medicalização/psicologização”.

De acordo com Conrad, o termo medicalização envolve a “definição de um problema em termos médicos, geralmente como uma doença ou transtorno, ou o uso de intervenções médicas para abordá-lo” (RUSSO e VIEIRA).

Isso se refere aos “processos nos quais aspectos da vida que antes não estavam sob o domínio da medicina passam a ser considerados como problemas médicos”. É importante observar que isso não necessariamente se relaciona à “patologização“, mas sim a uma “interpretação biomédica de perturbações que fazem parte da vida cotidiana”.

Como tratar a síndrome de burnout? É possível evitar o burnout?

Visão crítica sobre o Burnout

A compreensão do burnout como uma questão psicossocial emergiu em um contexto de crescente preocupação com o estresse no ambiente de trabalho nos países desenvolvidos a partir dos anos 1960.

De acordo com Väänänen, o interesse acadêmico nas transformações da vida profissional deu origem a um campo completo de estudo conhecido como “estresse laboral” (work stress), no qual o conceito de burnout passou a ser incluído. Esse interesse foi influenciado tanto pelas mudanças sociais pós-Segunda Guerra, ligadas a ideais de justiça social, quanto pela demanda da indústria de melhorar seu desempenho por meio de insights psicológicos.

No âmbito do movimento de estudo do estresse laboral, isso se manifestou por meio da busca por ambientes de trabalho mais saudáveis e pela atenção ao bem-estar do trabalhador industrial (com o objetivo de “humanizar” o trabalho).

Apesar do início voltado para uma agenda reformista, as pesquisas logo se concentraram em aspectos microsociais, direcionando-se assim à individualização, com um foco mais intenso nas respostas individuais em termos fisiológicos e comportamentais.

Como evitar o burnout

Compreendendo  Síndrome de Burnout como uma questão que vai além de algo individual, como é a visão da Psicologia Histórico-Cultural. Ou seja, a própria incidência maior dos casos de burnout estão relacionados a uma cultura de exploração dos trabalhadores e de um trabalho que não prevê o bem-estar das pessoas.

patopsicologia é também uma visão derivada da Psicologia Histórico-Cultural que analisa os processos das doenças em seu movimento. Ou seja, a partir de suas origens e desenvolvimentos, em sua história e a partir da cultura dos indivíduos.

Ela nos ajuda a compreender o burnout como a questão social que é, promovendo a reflexão de que é urgente mudar essa cultura, criando políticas públicas que protejam a saúde mental.

Em alguns países, a redução da jornada de trabalho, seja para 6 horas diárias ou para até 4 dias úteis, vem sendo aplicada como um teste para a melhoria nas condições de vida e redução dos casos de burnout.

Além disso, é possível tomar alguns cuidados para evitar o burnout:

  • Autoconhecimento: Esteja atento aos sinais precoces de estresse e cansaço emocional. Conheça seus limites e aprenda a reconhecer quando está sobrecarregado.
  • Estabeleça limites: Defina limites claros entre o trabalho e a vida pessoal. Desligue-se do trabalho fora do horário de expediente e permita-se tempo para descansar e relaxar.
  • Gerencie o tempo: Organize suas tarefas e prioridades. Use técnicas de gerenciamento de tempo, como a técnica Pomodoro, para manter o foco e evitar sobrecarga.
  • Pratique o autocuidado: Dedique tempo para cuidar de si mesmo. Isso inclui exercícios físicos regulares, uma dieta saudável, sono adequado e atividades que lhe tragam prazer.
  • Desenvolva habilidades de resiliência: Aprenda a lidar com o estresse de maneira saudável. Praticar a meditação, mindfulness ou yoga pode ajudar a reduzir a ansiedade e melhorar a resiliência emocional.
  • Estabeleça expectativas realistas: Não se sobrecarregue com expectativas irrealistas. Aprenda a dizer não quando necessário e a delegar tarefas quando possível. Defina metas alcançáveis e divididas em etapas menores. Celebrar pequenas conquistas ao longo do caminho pode manter sua motivação
  • Busque apoio social: Mantenha uma rede de apoio, incluindo com amigos, familiares e colegas. Compartilhar seus sentimentos pode ajudar a aliviar o estresse e proporcionar uma perspectiva externa.
  • Varie suas atividades: Introduza variedade em sua rotina para evitar o tédio e o cansaço constante.
  • Busque ajuda profissional: Se você estiver sentindo sinais persistentes de burnout, não hesite em buscar a orientação de um psicólogo ou terapeuta. Eles podem oferecer suporte personalizado para lidar com o estresse e prevenir o esgotamento.

Lembrando que cada pessoa é única, pode ser necessário ajustar essas dicas para melhor se adaptarem à sua situação e personalidade. O importante é encontrar um equilíbrio saudável entre trabalho, vida pessoal e cuidados consigo mesmo.

Raphael Granucci Pequeno
Raphael Granucci Pequeno

Psicólogo clínico, escritor e pesquisador

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